this post was submitted on 16 Mar 2025
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Bate-Papo

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Uma comunidade para discussões gerais que não se encaixam nas previstas em outras.

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Muito se fala sobre o estereótipo da Família, que é o núcleo pra que tudo funcione na sociedade moderna.

Mas como quebrar esse estereótipo? Que tipo de formas de vida podemos ter para revolucionar a forma como as pessoas se relacionam e desenvolvem suas vidas, ideias e interesses?

Alguém quer compartilhar sua história de vida, que talvez traga a outras pessoas a luz de que é possível viver de uma forma diferente com saúde e fortaleza?

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[–] [email protected] 1 points 2 hours ago

OK, pelo o que eu entendi você entende que existe um problema no modelo da família nuclear como padrão.

Mas qual esse problema? Na verdade são vários! O primeiro é que essas famílias são tratadas como um "ideal". O que leva famílias que não se encaixam nesse padrão a serem desprezadas. Segundo, esse modelo prioriza relações heterossexuais, centradas na figura do pai e em filhos consanguíneos que sempre herdam o sobrenome paterno. Como consequência disso famílias formadas por vínculos não-românticos, não-monogâmicos, não-heterossexuais envolvendo indivíduos sem relação consanguínea sofre discriminação, em caso de pais solteiros mães solos são mais julgadas que pais solos, familias sem homens adultos entre seus membros são vistas como mais vulneráveis. Além disso, por questões tradicionais, uma sacralidade é atribuída ao vínculo de sangue entre pais e filhos. Ao ponto em isso perpetue relacionamentos abusivos, ignorando que o bem-estar de civis, especialmente crianças, é de interesse da sociedade. Não é um assunto privado de uma família, pois pessoas não são propriedades sobre as quais alguém têm autoridade, mas indivíduos com direitos e deveres independentes de qualquer coisa. O último problema diz respeito a esfera jurídica, burocrática realmente, a definição de família limitada priva algumas pessoas do acesso ao seus direitos.

Agora, a realidade difere muito da prática, muitos dos lares, o que não é de hoje, são compostos por mulheres sem companheiro e suas famílias bem como seus filhos. Atualmente é bastante comum que uma pessoa tenha mais de um relacionamento estável ao longo de sua vida, e gere mais de uma criança. Pessoalmente, como uma pessoa que foi criada apenas pela mãe, não sinto nem jamais senti falta de uma figura paterna. Acredito que essa não seja uma necessidade biológica, mas uma insegurança criada pelas expectativas da sociedade, situações como o Dia dos Pais na escola, Dia das Mães etc. As crianças necessitam de figuras parentais, mas elas não necessitam ser necessariamente seu pai ou mãe – Do contrário crianças criadas por casais homossexuais de modo geral sofreriam de algum tipo de carência. No entanto, é visível, que uma criança tenha contato com pessoas de todos os tipos, homens e mulheres, para que ela humanidade seus semelhantes. Para que ela os enxergue como indivíduos como ela.

Outros exemplos de família não-nuclear é aquela em que os avós cuidam das crianças, ou aquela em que irmãos cuidam uns dos outros. Lembrando, não se trata apenas de normalizar a existem de núcleos famílias que não sejam patriarcais, heterossexuais, baseados no laço de sangue mas acabar com a normalização de dinâmicas abusivas em famílias nucleares, em famílias com casais homossexuais, em famílias com mais d e um núcleo familiar etc.

A obrigação do estado ou da sociedade – dependendo da linha ideológica – é garantir que direitos humanos não sejam violados, garantir cumprimento de responsabilidades e deveres.

Como desconstruir as consequências da dominância de modelo e normalizar novos valores de tolerância e diversidade?

As condições materiais envolveriam combate ao desemprego, subemprego, precarização das condições de trabalho e socialização do trabalho doméstico, universalização do ensino, moradia acessível, diminuir o custo de vida e aumentar o poder de compra – Pode não parecer, mas isso é importante, porque existe muita gente que só se mantém como parte de uma família porque não têm condições de sobreviver por conta própria.

Uma nova legislação mais inclusiva. Normalização através de obras que retratem outros modelos familiares.

Lembrando, a existência de famílias nucleares não é um problema, existem famílias nucleares que não reproduzem todas essas dinâmicas que eu comentei, que são até muito saudáveis. Assim como existem famílias não nucleares super problemáticas.

[–] [email protected] 5 points 4 days ago

Já vi sobre povos antigos e comunidades aqui e ali que tratam as crianças como sendo responsabilidade de todo mundo pra criar, e não se tem divisões de família, mas ainda assim tem uma certa tendência às famílias ficarem juntas, principalmente pela afeição das crianças com os pais. Na nossa sociedade creio que seria bem difícil um modelo assim funcionar, até por causa da escala.

Particularmente, não acho que o modelo baseado em núcleo familiar é ruim em si, mas que nossas famílias são totalmente disformes. As coisas não precisavam ser assim... mas enfim

[–] [email protected] 3 points 4 days ago* (last edited 4 days ago) (2 children)

Não sei se entendi muito bem. Você está dizendo que a ideia de centralizar a família pode ser prejudicial em alguns momentos? Um exemplo seriam as pessoas que aguentam abusos para não quebrar a "união" da família?

que é o núcleo pra que tudo funcione na sociedade moderna.

Posso estar errado, não é a minha área de atuação, mas a imagem do pai e da mãe não são consideradas muito importantes por psicólogos durante as análises?

Eu entendo que a imagem da família é exagerada por questões ideológicas conservadoras, eu só não consegui entender o problema apontado pela sua postagem.

[–] [email protected] 2 points 4 days ago

Esse lançe de imagem materna e paterna tem que ser superado dialeticamente, dentro da psicologia. Mais da metade das familias são de formação irregular ou tem seus serviços mal distribuidos. Não sei porque a "imagem do pai" sempre sugere uma vida mais fácil do que a da mãe (o cara sentado na poltrona assim rsrs) Um adendo: Se vê que o seu terapeuta é cristão, você já vai ver ele ramelando e misturando tudo na psicologia familiar.

[–] [email protected] 1 points 4 days ago

O problema é que muitas pessoas não têm a capacidade de formar uma família tradicional, fazendo seguir sua vida por outros rumos. E muitas das vezes esses rumos acabam não sendo saudáveis por causa da falta de apoio à pluralidade que existe não só no país como no mundo inteiro. Por isso eu queria saber histórias de sucesso, porque sei que tem muitas também.

[–] [email protected] 2 points 4 days ago* (last edited 4 days ago) (1 children)

Eu sempre vivi bem sozinho, não no sentido de não ter amigos familiares ao meu redor, mas desde o início meu propósito profissional era muito desviado do que todos ao meu redor acreditavam. Minha mãe por exemplo, só descobriu que havia graduação em música quando eu passei na universidade rsrs... Eu simplesmente tive um filho, faz 9 anos. Suspeito sou de dizer: o menino é um gênio, quando ele tinha 3 anos a mãe dele foi pra europa e eu fiquei full time com o carinha. Embora parecamos sozinhos no mundo consegui construir relações com e para ele que poucas crianças da idade dele têm.

ex:

  • uma continha no bar da esquina pra quando ele quiser comprar uns quitutes, uns miralbel, etc...
  • um ciclo de amigos da ruapara ele encontrar ocasionalmente
  • eu promovi uma espécie de censura (rsrs) com o entretenimento infantil contemporâneo: sem android, sem internet aberta, sem serviços de streaming porém com um repositório enorme de desenhos antigos como os cartoon cartoons e antigões da hanna barbera, jogos eu sou mais liberal, deixo ele ter a conta dele no roblox e conversar por ali. mas acabo forçando ele a jogar meus jogos das antigas como Warcraft III, Diablo II, Red Alert, Age of Empires, Zeldinha (nos emuladores), etc
  • uma relação que não envolve só amor e carinho, mas uma forma de amizade com trocas de opiniões sincera e raciocínios mútuos (que espero não perder com a adolescência)
  • desenvolver diversas preocupações individuais ("deu briga!? vaza longe", "olha o nóia da rua, hora que esse cara chegar na praça vaza", "a tiazinha que mora ali embaixo briga mesmo com o barulho das crianças porque é uma infeliz n liga não")
  • temos um sistema de radio-comunicação pra quando ele vai dar um rolê pelo bairro (tenho alcançe de +- 5km)
  • ele tem iniciativa de incluir coisas na lista de compras
  • "o pão com fermento caseiro, a coca de vidro, a banana mais verdinha, um pião de madeira, um bibioquê*" e outros valores lúdicos que a modernidade vem nos tirando
  • etc, etc, etc...

Bom, ele sabe o pai que tem e que um coitado como esse que insiste em viver de música não pode prover muita coisa no sentido material (ex: uma bolsa nova, brinquedos superfaturados, etc...). As vezes rola o questionamento "nossa você fica em casa o dia inteiro pai" sendo que eu saio trabalhar de madrugada (graças a ajuda de uma vizinha que tenho confiança) e chego no outro dia arregassado, ele vê que alguma coisa eu faço. O mundo (talvez mais a minha família que o mundo todo) esfregou demais na minha cara que nada iria dar certo sem uma 'esposa' ou a mãe dele comigo. Mas eu digo que seria só mais estorvo. Infelizmente, não tem como negar quando você é uma pessoa sozinha, e aceitar sem propósito associações mesmo que na instituição mais sagrada possível que é a familia.

TLDR (resumo)

Não tenham medo de viver a vida e criar alguém sozinho. Ter um filho é uma parada que pode extravasar seu potencial como ser humano! Deixar de lado essa história de "mamãe, papai e filhinho", figura materna, figura paterna, etc foi um ponto crucial pra poder progredir nesse modo.

P.S: vocês sabem o que é um bibioquê ?

[–] [email protected] 2 points 4 days ago

Fui buscar na Internet pra saber o que é um bibioquê, não conhecia de nome. É aquele brinquedo de jogar a bola pra cima e ela cair no copo, né? Eu já vi antes.

Bela história de vida. Bom saber que tem um pai solteiro por aí que está conseguindo segurar as pontas. Cuidar da casa, fazer comida e lidar com todos esses reveses como homem deve ser difícil.

Obrigado por compartilhar!